Aproveitando
que no mês de setembro, além da primavera, e ou talvez por isso, o Brasil é tomado
por feiras de livros e encontros literários, expondo a velha e a nova
literatura para novos e velhos leitores, decidi (re)visitar alguns grandes
escritores brasileiros e portugueses, cuja obra pode ser apreciada com prazer e
considerações por crianças de qualquer idade. São poemas que remetem à
infância, ao campo, aos jogos juvenis..., por vezes até melancólicos no seu
saudosismo, mas sempre (e)ternos no registro lúdico de um tempo que já não há.
Há muito!
O
número de poemas será o de um a três, por autor, e as postagens sempre
individuais (um por página) para melhor apreciação de cada obra. Esta primeira edição contará com mais ou
menos 30 escritores pinçados ao acaso em meus arquivos. Futuramente farei uma
edição apenas com escritoras.
A
chuva tanto fascina quanto apavora as crianças..., e muitos adultos.
Principalmente se repleta de raios e trovões. Hoje, ao contrário da ritmada
(quase acalanto) Chuva de Pedra, de Augusto Meyer, é
uma tempestade que nos chega (quase apavorante), através dos versos cinematográficos
do escritor português Arronches
Junqueiro (1868-1940), em memorável Noite de Inverno. Este poema encontra-se também em Toda Poesia – Antologia Poética,
organizada por Iba Mendes. Ah, amanhã a chuva continua caindo por aqui e, desta
vez, na palavra sempre admirável de Jorge de Lima.
Noite de Inverno
Arronches Junqueiro
O vento rosna nas frinchas
das portas. Um pingo cai
compassado
a chorar
do beiral do meu telhado
E pela vastidão da noite escura
misteriosa
angustiosa,
ecoa a sinfonia da procela.
Enfurecido,
com braço vigoroso de bandido
o vento vem forçar-me os vidros da janela.
A luz
a minha cabeceira, oscila e treme.
Sinto um calafrio a repelar-me,
e olho a vida em doidas espirais…
parece uma bandeira a acenar-me,
a fazer-me sinais.
La fora ha uivos, gritos, estertores
de arvores a gemer,
numa miséria trágica de dores…
Troncos estalando,
folhas doidejando,
na luta colossal de querer viver.
O vento, como um deus louco e potente
em fúrias singulares,
rugindo como fera onipotente
sacode e torce, em crises de demente
os troncos seculares.
Alta noite.
O bandido cansou-se. Reina o silencio
Apenas um pingo cai
Compassado,
Espaçado,
A chorar
dos beirais do meu telhado.
*
ilustração de Joba Tridente.2016
António Casimiro
Arronches Junqueiro (Setúbal-Portugal:
13 de janeiro de 1868 - 28 de setembro de 1940): jornalista, escritor,
dramaturgo, arqueólogo e zoólogo..., tendo se dedicado à flora e fauna deste a
juventude. Trabalhou na Biblioteca Municipal de Setúbal (916 a 1928). Entre
suas obras, destacam-se: Júlia (peça
em 4 atos, 1894); Flores d'Alma (1894);
À sorte (comédia em 2 atos, 1895); Últimos dias de Pompeia (drama em 4 atos
em verso, 1895);Urzes (1896); O asceta (poesia, 1896); A barcarola (romance em 4 atos, 1897); Teatro infantil (1907); Ligeira nuvem (episódio infantil em
verso, 1908); Laura (poema em cinco
cantos, 1914); Tumulares (sonetos, 1914);
Abelha e malmequer (diálogo infantil
em verso, 1916); Paz! (1918); Autos do Natal (1920); Pedaços d'alma (1920); Poesias, sonetos, a-propósitos (1920?); Campos da minha terra (poemeto, 1920); Do estaleiro (1930). Fonte: Wikipédia. Para saber mais: Arronches Junqueiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário