Aproveitando
que no mês de setembro, além da primavera, e ou talvez por isso, o Brasil é
tomado por feiras de livros e encontros literários, expondo a velha e a nova
literatura para novos e velhos leitores, decidi (re)visitar alguns grandes
escritores brasileiros e portugueses, cuja obra pode ser apreciada com prazer e
considerações por crianças de qualquer idade. São poemas que remetem à
infância, ao campo, aos jogos juvenis..., por vezes até melancólicos no seu
saudosismo, mas sempre (e)ternos no registro lúdico de um tempo que já não há.
Há muito!
O
número de poemas será o de um a três, por autor, e as postagens sempre
individuais (um por página) para melhor apreciação de cada obra. Esta primeira edição contará com mais ou
menos 30 escritores pinçados ao acaso em meus arquivos. Futuramente farei uma
edição apenas com escritoras.
Com
três poemas do mestre da simplicidade, o eterno Mario Quintana (1906-1994), encerro esta série que buscou regatar a
memória afetiva e lúdica de alguns autores que praticaram sua bela poesia em
língua portuguesa. Embora menosprezada pela Academia Brasileira de Letras, a
obra universal do premiado Quintana deve ser apreciada sem moderação por
qualquer público leitor. Se anteontem você viajou de trem no seu convidativo Poema Transitório! Se ontem conheceu Uma Historinha Mágica muito criativa! Hoje
vai se emocionar com a imensa sensibilidade de Mário Quintana no seu pertinente
poema A Casa Fantasma. O cinza afrontando
o azul. O concreto cobrindo o verde. O desenvolvimento urbano massacrando o
pertencimento humano. O clamor do poeta colocando o leitor diante da beleza do intangível.
A Casa Fantasma
Mario Quintana
A casa está morta?
Não: a casa é um fantasma,
um fantasma que sonha
com a sua porta de pesada aldrava,
com os seus intermináveis corredores
que saíam a explorar no escuro os
mistérios da noite
e que as luas, por vezes,
enchiam de um lívido assombro...
Sim!
agora
a casa está sonhando
com o seu pátio de meninos pássaros.
A casa escuta... Meu Deus! a casa
está louca, ela não
[sabe
que em seu lugar se ergue um monstro
de cimento e
[aço:
há sempre uma cidade dentro de outra
e esse eterno desentendido entre o
Espaço e o Tempo.
Casa que teimas em existir
a coitadinha da velha casa!
Eu também não consegui nunca
afugentar meus
[pássaros.
*
ilustração de Joba
Tridente.2016
Mario de Miranda Quintana (Alegrete-RS: 30.07.1906 –Porto Alegre-RS: 05.
05.1994), jornalista, tradutor, poeta (maior) brasileiro. O “poeta das coisas
simples”, o “prosador” do cotidiano, traduziu Marcel Proust, Virgínia Wolf, Giovanni
Papini, Honoré Balzac, Voltaire, Graham Greene, Joseph Conrad, Guy de
Maupassant, Aldous Huxley, Somerset Maugham, entre outros mestres da literatura
universal. Amado por uma grande legião de fãs no Brasil e exterior, mas menosprezado
pela Academia Brasileira de Letras, o premiado escritor lançou o seu primeiro
livro de poesias, A Rua dos Cataventos,
em 1940. Quintana trabalhou na Editora Globo e no jornal Correio do Povo. Para
saber mais da sua fascinante biografia e extensa bibliografia, sugiro a leitura
de Jornal de Poesia: Mario Quintana; Releituras:
Mario Quintana; Antonio
Miranda: Mario Quintana. Wikipédia: Mario Quintana.
Me apaixonei por esse poema desde a primeira vez que vi no livro didático, inclusive cito ele num texto meu.
ResponderExcluir..., é um doce lembrança, sol, principalmente para quem teve (ou ainda tem) o privilégio de morar em casa com quintal, jardim...
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