Aproveitando
que no mês de setembro, além da primavera, e ou talvez por isso, o Brasil é
tomado por feiras de livros e encontros literários, expondo a velha e a nova
literatura para novos e velhos leitores, decidi (re)visitar alguns grandes
escritores brasileiros e portugueses, cuja obra pode ser apreciada com prazer e
considerações por crianças de qualquer idade. São poemas que remetem à
infância, ao campo, aos jogos juvenis..., por vezes até melancólicos no seu
saudosismo, mas sempre (e)ternos no registro lúdico de um tempo que já não há.
Há muito!
O
número de poemas será o de um a três, por autor, e as postagens sempre
individuais (um por página) para melhor apreciação de cada obra. Esta primeira edição contará com mais ou
menos 30 escritores pinçados ao acaso em meus arquivos. Futuramente farei uma
edição apenas com escritoras.
Com
três poemas do mestre da simplicidade, o eterno Mario Quintana (1906-1994), encerro esta série que buscou regatar a
memória afetiva e lúdica de alguns autores que praticaram sua bela poesia em
língua portuguesa. Embora menosprezada pela Academia Brasileira de Letras, a
obra universal do premiado Quintana deve ser apreciada sem moderação por
qualquer público leitor. Se ontem você viajou de trem no seu convidativo Poema Transitório. Hoje, diretamente
das páginas do aclamado Baú de Espantos
(1986), conhece Uma Historinha Mágica..., mágica e encantadora! Amanhã fecho o mês com Quintana falando do (que
nos parece) intangível.
Uma Historinha Mágica
Mario Quintana
para Lili
Era um burrinho azul, vindo do céu
Via-o de madrugada no meu sonho...
E eu sempre lhe servia, em meu
chapéu,
bolas-de-inhaque feitas de arco-íris!
Nunca as achei por isso nos bazares
quando a cidade despertava, exata,
e só restava da Cidade Oculta
um passo leve de menina-flor...
E era um menino preguiçoso e triste
e quando ele sorria por acaso
ninguém lhe fosse perguntar por quê!
Ele sabia histórias sem enredo
pois não queria que acabassem nunca
- Era um burrinho... uma menina...
e...
*
ilustração de
Joba Tridente.2016
Mario de Miranda Quintana (Alegrete-RS: 30.07.1906 –Porto Alegre-RS: 05.
05.1994), jornalista, tradutor, poeta (maior) brasileiro. O “poeta das coisas
simples”, o “prosador” do cotidiano, traduziu Marcel Proust, Virgínia Wolf,
Giovanni Papini, Honoré Balzac, Voltaire, Graham Greene, Joseph Conrad, Guy de
Maupassant, Aldous Huxley, Somerset Maugham, entre outros mestres da literatura
universal. Amado por uma grande legião de fãs no Brasil e exterior, mas
menosprezado pela Academia Brasileira de Letras, o premiado escritor lançou o
seu primeiro livro de poesias, A Rua dos
Cataventos, em 1940. Quintana trabalhou na Editora Globo e no jornal
Correio do Povo. Para saber mais da sua fascinante biografia e extensa
bibliografia, sugiro a leitura de Jornal
de Poesia: Mario Quintana; Releituras: Mario Quintana; Antonio
Miranda: Mario Quintana. Wikipédia: Mario Quintana.
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