quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Casimiro de Abreu: Meus Oito Anos

Aproveitando que no mês de setembro, além da primavera, e ou talvez por isso, o Brasil é tomado por feiras de livros e encontros literários, expondo a velha e a nova literatura para novos e velhos leitores, decidi (re)visitar alguns grandes escritores brasileiros e portugueses, cuja obra pode ser apreciada com prazer e considerações por crianças de qualquer idade. São poemas que remetem à infância, ao campo, aos jogos juvenis..., por vezes até melancólicos no seu saudosismo, mas sempre (e)ternos no registro lúdico de um tempo que já não há. Há muito!

O número de poemas será o de um a três, por autor, e as postagens sempre individuais (um por página) para melhor apreciação de cada obra.  Esta primeira edição contará com mais ou menos 30 escritores pinçados ao acaso em meus arquivos. Futuramente farei uma edição apenas com escritoras.

Na minha infância escolar, não tinha quem não soubesse de cor e salteado o clássico poema Meus Oito Anos, do romântico (tardio?) Casimiro de Abreu (1839-1860) morto aos 21 anos. Este poema, que se encontra em Primaveras (1859), seu único livro publicado, é ainda muito popular entre os mais velhos leitores e nos remete ao recente Lembrança do Mundo Antigo (1940), de Drummond de Andrade, postado dia 06.09.2016. Ambos em sua simplicidade traçam o que nos parece, hoje, um mundo idílico de quase ficção. Amanhã é dia de suspense, com o cinematográfico poema de Arronches Junqueiro (1868-1940).



Meus  Oito  Anos
Casimiro de Abreu


Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar e — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das magoas de agora,
Eu tinha nessas delicias
De minha mãe as caricias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
— Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava a beira do mar;
Rezava as Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
...................................
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!

*
ilustração de Joba Tridente.2016



Casimiro José Marques de Abreu (Barra de São João-RJ: 04.01.1839 - Nova Friburgo-RJ: 18.10.1860), recebeu apenas a instrução primária (11 aos 13 anos) publicou, em vida, apenas o livro Primaveras (1859). Aos 14 anos, na acompanhado do pai, viajou para Portugal, onde iniciou sua carreira literária. Lá compôs seus saudosos poemas, o drama Camões e Esaú (1856), os folhetins Carolina e Camila. De volta ao Brasil, em 1857, colaborou com os periódicos A MarmotaO EspelhoRevista Popular e o Correio Mercantil. Para saber mais sobre o poeta popular brasileiro Casimiro de Abreu, sugiro uma visita à Biblioteca Brasilianaonde você poderá fazer legalmente downloads grátis das obras do autor, e aos sites Academia Brasileira de Letras e Antonio Miranda.

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