terça-feira, 6 de setembro de 2016

Carlos Drummond de Andrade: Lembrança do Mundo Antigo

Aproveitando que no mês de setembro, além da primavera, e ou talvez por isso, o Brasil é tomado por feiras de livros e encontros literários, expondo a velha e a nova literatura para novos e velhos leitores, decidi (re)visitar alguns grandes escritores brasileiros e portugueses, cuja obra pode ser apreciada com prazer e considerações por crianças de qualquer idade. São poemas que remetem à infância, ao campo, aos jogos juvenis..., por vezes até melancólicos no seu saudosismo, mas sempre (e)ternos no registro lúdico de um tempo que já não há. Há muito!

O número de poemas será o de um a três, por autor, e as postagens sempre individuais (um por página) para melhor apreciação de cada obra.  Esta primeira edição contará com mais ou menos 30 escritores pinçados ao acaso em meus arquivos. Futuramente farei uma edição apenas com escritoras.

Pelas ruas de quase todo o mundo caminham zumbilulares estupidificados. Gente tola que perdeu todas as referências da natureza ao redor. O interior bucólico de ontem, talvez não mais exista em lugar algum. Cada tempo com a sua memória. Ontem um deleite. Hoje um delete! Nesta série que prioriza a recordação, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) traz a sua belíssima Lembrança do Mundo Antigodo livro Sentimento do Mundo (1940). Amanhã você conhece o mundo encantado de Antero de Quental (1842-1891).


                    

Lembrança do Mundo Antigo
Carlos Drummond de Andrade

Clara passeava no jardim com as crianças.
O céu era verde sobre o gramado,
a água era dourada sob as pontes,
outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados,
o guarda-civil sorria, passavam bicicletas,
a menina pisou na relva para pegar um pássaro.
O mundo inteiro, a Alemanha, a China,
tudo era tranquilo ao redor de Clara.

As crianças olhavam para o céu... Não era proibido!
A boca, o nariz, os olhos estavam abertos...
Não havia perigo!
Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos.
Clara tinha medo de perder o bonde das 11 horas,
esperava cartas que custavam a chegar,
nem sempre podia usar vestido novo.
Mas passeava no jardim pela manhã!!!
Havia jardins, havia manhãs naquele tempo!!!

*
ilustração de Joba Tridente.2016


Carlos Drummond de Andrade  (Itabira-MG: 31.10.1902 - Rio de Janeiro-RJ: 17.08.1987): cronista e escritor de prosa e verso. Farmacêutico formado pela Universidade Federal de Minas Gerais, Drummond, que foi funcionário público, se dedicou à literatura desde muito jovem, sendo considerado um dos mais importantes no cenário brasileiro do século 20. No site releitura há um bom material biográfico sobre o mestre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...