Aproveitando
que no mês de setembro, além da primavera, e ou talvez por isso, o Brasil é
tomado por feiras de livros e encontros literários, expondo a velha e a nova literatura
para novos e velhos leitores, decidi (re)visitar alguns grandes escritores
brasileiros e portugueses, cuja obra pode ser apreciada com prazer e
considerações por crianças de qualquer idade. São poemas que remetem à
infância, ao campo, aos jogos juvenis..., por vezes até melancólicos no seu
saudosismo, mas sempre (e)ternos no registro lúdico de um tempo que já não há.
Há muito!
O
número de poemas será o de um a três, por autor, e as postagens sempre
individuais (um por página) para melhor apreciação de cada obra. Esta primeira edição contará com mais ou
menos 30 escritores pinçados ao acaso em meus arquivos. Futuramente farei uma
edição apenas com escritoras.
Pelas ruas de quase todo o mundo caminham zumbilulares estupidificados. Gente tola que perdeu todas
as referências da natureza ao redor. O interior bucólico de ontem, talvez não
mais exista em lugar algum. Cada tempo com a sua memória. Ontem um deleite. Hoje
um delete! Nesta série que prioriza a recordação, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) traz a sua belíssima Lembrança do Mundo Antigo, do
livro Sentimento do Mundo (1940). Amanhã você conhece o mundo encantado de
Antero de Quental (1842-1891).
Lembrança do Mundo Antigo
Carlos Drummond de Andrade
Clara passeava no jardim com as
crianças.
O céu era verde sobre o gramado,
a água era dourada sob as pontes,
outros elementos eram azuis, róseos,
alaranjados,
o guarda-civil sorria, passavam
bicicletas,
a menina pisou na relva para pegar um
pássaro.
O mundo inteiro, a Alemanha, a China,
tudo era tranquilo ao redor de Clara.
As crianças olhavam para o céu... Não
era proibido!
A boca, o nariz, os olhos estavam
abertos...
Não havia perigo!
Os perigos que Clara temia eram a
gripe, o calor, os insetos.
Clara tinha medo de perder o bonde
das 11 horas,
esperava cartas que custavam a
chegar,
nem sempre podia usar vestido novo.
Mas passeava no jardim pela manhã!!!
Havia jardins, havia manhãs naquele
tempo!!!
*
ilustração de Joba Tridente.2016
Carlos Drummond de Andrade (Itabira-MG:
31.10.1902 - Rio de Janeiro-RJ: 17.08.1987): cronista e escritor de prosa e
verso. Farmacêutico formado pela Universidade Federal de Minas Gerais,
Drummond, que foi funcionário público, se dedicou à literatura desde muito
jovem, sendo considerado um dos mais importantes no cenário brasileiro do
século 20. No site releitura
há um bom material biográfico sobre o mestre.
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