terça-feira, 13 de setembro de 2016

Fagundes Varela: O Vizir

Aproveitando que no mês de setembro, além da primavera, e ou talvez por isso, o Brasil é tomado por feiras de livros e encontros literários, expondo a velha e a nova literatura para novos e velhos leitores, decidi (re)visitar alguns grandes escritores brasileiros e portugueses, cuja obra pode ser apreciada com prazer e considerações por crianças de qualquer idade. São poemas que remetem à infância, ao campo, aos jogos juvenis..., por vezes até melancólicos no seu saudosismo, mas sempre (e)ternos no registro lúdico de um tempo que já não há. Há muito!

O número de poemas será o de um a três, por autor, e as postagens sempre individuais (um por página) para melhor apreciação de cada obra.  Esta primeira edição contará com mais ou menos 30 escritores pinçados ao acaso em meus arquivos. Futuramente farei uma edição apenas com escritoras.

A obra intensa de Fagundes Varela (1841-1875) vem sendo redescoberta e estudada aos poucos. O Vizir, publicado em Vozes da América (1864), me parece uma belíssima fábula oriental. Gosto da sua síntese e metáfora que ecoa (e muito!) nos devastados dias de hoje. O “olho por olho” é um nó dolorido que ao se desfazer torna sublime a meada dos versos. O próximo autor será Artur Azevedo (1855-1908).




O   V I Z I R
Fagundes Varela

- Não derrubes meus cedros! murmurava
O gênio da floresta aparecendo
Adiante de um vizir, senão eu juro
Punir-te rijamente! E no entanto
O vizir derrubou a santa selva!
Alguns anos depois foi condenado
Ao cutelo do algoz. Quando encostava
A cabeça febril no duro cepo,
Recuou aterrado: - “Eternos deuses!
Este cepo e de cedro!” E sobre a terra
A cabeça rolou banhada em sangue!

*
ilustração de Joba Tridente.2016


Luiz Nicolau Fagundes Varela  (São João Marcos-RJ: 17.08.1841-Niteróis-RJ: 18.02.1875) foi um dos mais importantes nomes da romântica poesia brasileira de sua geração. O poeta boêmio morreu cedo, aos 33 anos. Misticismo, religião, angústia, patriotismo encontram abrigo em seus versos. Patrono da Academia Brasileira de Letras, é autor de:  Noturnas (1860); Cântico do Calvário (1863); Vozes da América (1864); Cantos e Fantasias (1865); Pendão Auriverde (1863); Cantos Meridionais (1869); Cantos do Ermo e da Cidade (1869); Anchieta ou O Evangelho nas Selvas (1875); Cantos Religiosos (1878); Diário de Lázaro (1880). Para saber mais: Academia Brasileira de Letras; Fagundes Varela; Jornal de Poesia; Bibliologista.

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