sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Arthur Azevedo: Infantilidade

Aproveitando que no mês de setembro, além da primavera, e ou talvez por isso, o Brasil é tomado por feiras de livros e encontros literários, expondo a velha e a nova literatura para novos e velhos leitores, decidi (re)visitar alguns grandes escritores brasileiros e portugueses, cuja obra pode ser apreciada com prazer e considerações por crianças de qualquer idade. São poemas que remetem à infância, ao campo, aos jogos juvenis..., por vezes até melancólicos no seu saudosismo, mas sempre (e)ternos no registro lúdico de um tempo que já não há. Há muito!

O número de poemas será o de um a três, por autor, e as postagens sempre individuais (um por página) para melhor apreciação de cada obra.  Esta primeira edição contará com mais ou menos 30 escritores pinçados ao acaso em meus arquivos. Futuramente farei uma edição apenas com escritoras.

É provável que o mestre Arthur Azevedo (1855-1908) seja mais conhecido por sua dedicação ao Teatro de Revista (escreveu cerca de 200 peças) do que à poesia e à prosa, cuja produção é menor, mas com o mesmo nível de qualidade e de prazerosa leitura. Um divertido exemplo é este (teatral e cômico) soneto Infantilidade. Amanhã trago o abolicionista Luís da Gama (1830-1882).



I n f a n t i l i d a d e
Arthur de Azevedo

Que reboliço vai em casa de Marieta!
É que fugiu Mignonne, a gata favorita,
E tanto chora e chora a pobre pequenita,
Que o papai manda por anúncio na gazeta.

Da vizinhança alguém, com olho na gorjeta,
A trânsfuga encontrou, que andava de visita
Ao demo de um maltês filósofo que habita
De um canto de fogão a cálida saleta.

Marieta, ao ver Mignonne, estende-lhe os bracinhos.
Dá-lhe um banho de amor em beijos e carinhos,
Nervosa, a soluçar, e, ao mesmo tempo, a rir.

E entre afagos lhe diz: "Senhora, foi preciso
Por um anúncio! Veja o que é não ter juízo!"
E todo o anúncio lê para Mignonne ouvir...

*
ilustração de Joba Tridente.2016



Arthur Nabantino Gonçalves de Azevedo (São Luís-MA: 07.07.1855 - Rio de Janeiro-RJ: 22.10.1908), foi escritor de prosa e verso, dramaturgo, tradutor e jornalista brasileiro que se destacou ainda jovem, principalmente pela sua veia cômica. Irmão do romancista Aluísio de Azevedo (1857-1913), aos 15 anos escreveu a divertida peça Amor por anexins, que faz sucesso até hoje. Fundou publicações literárias (A GazetinhaVida ModernaO Álbum) e escreveu para diversos jornais (O País, Diário de Notícia, A Notícia). Em sua extensa bibliografia há Poesia: Carapuças (1871); Sonetos (1876); Contos em Verso (1898); Contos: Um dia de Finados (1877); Contos Possíveis (1889); Contos fora da Moda (1894); Contos Efêmeros (1897);  Contos cariocas (1928); Vida Alheia (1929); Histórias Brejeiras (1962); Teatro: Amor por Anexins (1872); Horas de Humor (1876);  A Pele do Lobo (1877);  A Joia, (1879;  A Princesa dos Cajueiros (1880);  O Liberato (1881);  A Mascote na Roça (1882);  A Almanjarra (1888);  O Tribofe (1892);  Revelação de Um Segredo (1895); A Fantasia (1896);  A Capital Federal (1897); Confidências (1898);  O Jagunço (1898); O Badejo (1898); Gavroche (1899);  A Viúva Clark (1900);  Comeu! (1902);   O Oráculo (1907). Para saber mais da rica biografia: Academia Brasileira de Letras, Teatro de Revista, Fundação Joaquim Nabuco, Coisas do Zé.

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