Aproveitando
que no mês de setembro, além da primavera, e ou talvez por isso, o Brasil é
tomado por feiras de livros e encontros literários, expondo a velha e a nova
literatura para novos e velhos leitores, decidi (re)visitar alguns grandes
escritores brasileiros e portugueses, cuja obra pode ser apreciada com prazer e
considerações por crianças de qualquer idade. São poemas que remetem à
infância, ao campo, aos jogos juvenis..., por vezes até melancólicos no seu
saudosismo, mas sempre (e)ternos no registro lúdico de um tempo que já não há.
Há muito!
O
número de poemas será o de um a três, por autor, e as postagens sempre
individuais (um por página) para melhor apreciação de cada obra. Esta primeira edição contará com mais ou
menos 30 escritores pinçados ao acaso em meus arquivos. Futuramente farei uma
edição apenas com escritoras.
O escritor paranaense Emiliano Perneta (1866-1921), um dos
criadores do simbolismo brasileiro, reverenciado como o Príncipe dos Poetas Paranaenses, teve grande presença na ebulição
literária de sua época. O bonito soneto Iguassú
(em língua guarani significa “rio grande”)
é uma exaltação ao rio da sua infância que, mesmo sofrendo com a poluição de suas águas, alimenta
as Cataratas do Iguaçu, consideradas uma das 7 Maravilhas Naturais do Mundo. A
memória afetiva de Emiliano ressalta um tempo que dificilmente voltará, quando
o rio cristalino, com seus encantos naturais, só incomodava os ribeirinhos na enchente.
Amanhã escritor português Francisco Joaquim Bingre (1763-1856) traz o registro
de sua mais antiga memória afetiva e lúdica.
I g u a s s ú
Emiliano Perneta
ao
Joaquim de Castro
Ó rio que nasceu, onde nasci, ó rio
Calmo da minha infância, ora doce, ora má,
Belo estuário azul, espelhado e sombrio,
Quanto susto me deu, quanto prazer me dá!
Quantas vezes eu só, nessas manhãs d’estio,
Ao vê-lo deslizar, pomposamente, lá,
Pálido não fiquei, tão majestoso vi-o,
Orgulho do Brasil, gloria do Paraná!
Companheiro ideal! Durante toda a viagem,
Foi o espelho fiel a refletir a imagem,
Dos montes e dos céus, discorrendo através
Da floresta, ora assim como um cão veadeiro,
A fugir, a fugir alegre e alvissareiro,
Ora deitado aqui, quase a lamber-me os pés!
*
ilustração de Joba Tridente.2016
Emiliano David Perneta
(Pinhais-PR: 03.01.1866 - Curitiba-PR: 19.01.1921), advogado, jornalista e
escritor brasileiro, foi um dos criadores do simbolismo no Brasil e divulgador
da literatura de Baudelaire. Seus primeiros poemas foram publicados em O Dilúculo (1883). Em São Paulo, no ano
de 1888, juntamente com Afonso de Carvalho, Carvalho Mourão e Edmundo Lins,
fundou a Folha Literária, ano em que
publicou Músicas (versos parnasianos)
e o panfleto Carta à Condessa D'Eu.
Dirigiu, em companhia de Olavo Bilac, Vida
Semanária e colaborou com o Diário
Popular, Gazeta de São Paulo e Folha Popular, onde publicou a
manifestações iniciais do movimento simbolista. Em Curitiba, onde exerceu
também o magistério, criou a revista simbolista Victrix (1892)., publicou em 1913 o libreto Papilio Innocentia, , baseado no romance Inocência, do Visconde de
Taunay, para a ópera do compositor suíço Léo Kessler. Emiliano Perneta, um dos
fundadores do Centro de Letras do Paraná (1912) e considerado o Príncipe dos Poetas Paranaenses, é autor
de Músicas (1888); Carta à Condessa D'Eu (1889); O
Inimigo (prosa dramática - 1889); Alegoria (prosa dramática - 1903); Papilio
Innocentia (1913); A Vovozinha (libreto de ópera infantil-
1917); Ilusão (1911); Pena de Talião (1914); Setembro (1934),
Poesias Completas (1945). Saber mais: Domingos Van Erven: Emiliano
Perneta, Poeta ansioso pela revelação do mistério e A Poesia de Emiliano Perneta;
Ivan Justen: Emiliano
Perneta: Vida e Poesia de Província?. Há outras matérias sobre o autor, na web.
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