domingo, 4 de setembro de 2016

Augusto Meyer: Chuva de Pedra

Aproveitando que no mês de setembro, além da primavera, e ou talvez por isso, o Brasil é tomado por feiras de livros e encontros literários, expondo a velha e a nova literatura para novos e velhos leitores, decidi (re)visitar alguns grandes escritores brasileiros e portugueses, cuja obra pode ser apreciada com prazer e considerações por crianças de qualquer idade. São poemas que remetem à infância, ao campo, aos jogos juvenis..., por vezes até melancólicos no seu saudosismo, mas sempre (e)ternos no registro lúdico de um tempo que já não há. Há muito!

O número de poemas será o de um a três, por autor, e as postagens sempre individuais (um por página) para melhor apreciação de cada obra.  Esta primeira edição contará com mais ou menos 30 escritores pinçados ao acaso em meus arquivos. Futuramente farei uma edição apenas com escritoras.

O escritor gaúcho Augusto Meyer (1902-1970), com sua memória cristalina, nos brinda com uma percussiva Chuva de Pedra, publicado originalmente em Coração Verde (1926). Amanhã é a vez do açoriano Armando Côrtes Rodrigues (1891-1971) nos falar das vozes da noturnas...



Chuva de Pedra
Augusto Meyer

Tombam gotas duras sobre a terra, saltam
como seixos pequeninos, saltam,
cada folha é um toldo que ressoa, soa
pela terra o canto da saraiva boa.
Cada rosa meiga é uma humildade mansa
Na carícia bruta.

E canta a saraiva clara
sobre a terra enxuta, sobre a terra boa.

Pedras, pingos pulam de alegria
como vidro moído, numa dança louca.

Ouve como soa
sobre a terra o baque da saraiva clara,
fria, fria, fria, numa chuva boa...

*
ilustração de Joba Tridente.2016



Augusto Meyer (Porto Alegre-RS: 24.01.1902 - Rio de Janeiro-RJ: 10.07.1970) foi jornalista, ensaísta, escritor, memorialista, folclorista brasileiro. Membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Filologia, colaborou com jornais do Rio Grande do Sul, onde também foi diretor da Biblioteca Púbica do Estado e organizador do Instituto Nacional do Livro, no Rio de Janeiro. Poesia: A ilusão querida (1923); Coração verde (1926); Giraluz (1928); Duas orações (1928); Poemas de Bilu (1929); Sorriso interior (1930); Literatura & poesia, poema em prosa (1931); Poesias 1922-1955 (1957); Antologia poética (1966). Ensaio: Machado de Assis (1935); Prosa dos pagos (1943); À sombra da estante (1947); Le Bateau ivre. Análise e interpretação (1955); Preto & Branco (1956); Gaúcho, história de uma palavra (1957); Camões, o bruxo e outros estudos (1958); A chave e a máscara (1964); A forma secreta (1965). Folclore: Guia do folclore gaúcho (1951); Cancioneiro gaúcho (1952); Seleta em prosa e verso (1973). Memória: Segredos da infância (1949); No tempo da flor (1966). Para saber mais e conhecer outros poemas: Templo Cultural Delfos e Academia Brasileira de Letras.

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