Aproveitando
que no mês de setembro, além da primavera, e ou talvez por isso, o Brasil é
tomado por feiras de livros e encontros literários, expondo a velha e a nova
literatura para novos e velhos leitores, decidi (re)visitar alguns grandes
escritores brasileiros e portugueses, cuja obra pode ser apreciada com prazer e
considerações por crianças de qualquer idade. São poemas que remetem à
infância, ao campo, aos jogos juvenis..., por vezes até melancólicos no seu
saudosismo, mas sempre (e)ternos no registro lúdico de um tempo que já não há.
Há muito!
O
número de poemas será o de um a três, por autor, e as postagens sempre
individuais (um por página) para melhor apreciação de cada obra. Esta primeira edição contará com mais ou
menos 30 escritores pinçados ao acaso em meus arquivos. Futuramente farei uma
edição apenas com escritoras.
Luiz Guimarães Junior (1845-1898), de quem já publiquei
anteriormente três obras-primas: A
Morte da Águia; O
Viajante e Idílio,
é uma (re)descoberta tardia minha. A cada (re)leitura a sua obra se torna mais apaixonante. Gosto do seu exotismo, da sua
narrativa romântica e de expressividade rara. Em Sonetos e Rimas (1880) encontrei O Jaguar..., pode não se encaixar no propósito desta série que
explora a memória afetiva e ou lúdica de autores em língua portuguesa, mas é de
uma beleza tão desconcertante, que não pude deixar de fora. Amanhã é a vez do escritor paranaense Emiliano Perneta (1866-1921).
O Jaguar
Luiz Guimarães Junior
Rosna o fulvo jaguar, triste e
dormente,
No seio da floresta: – a fera inteira
Dobra à velhice, e a névoa derradeira
Cobre-lhe a fauce lívida e impotente.
O imundo inseto, a mosca impertinente
Zumbe-lhe em torno; – a cobra
traiçoeira
Fere-lhe a cauda inerte, e a
aventureira
Formiga morde-o calma e indiferente.
Apenas quebra o sono mortuário
Do velho herói o grito, entre as
folhagens,
Do cordeiro medroso e solitário;
Ou, através das tropicais aragens,
O tropel afastado, intenso e vário
Dum rebanho de búfalos selvagens.
*
ilustração de
Joba Tridente.2016
LUIZ Caetano Pereira GUIMARÃES
JÚNIOR (Rio de Janeiro-RJ: 17.02.1845 – Lisboa-Portugal: 20.05.1898):
advogado, diplomata, escritor (de verso e prosa), jornalista e teatrólogo
brasileiro. Graduado pela Faculdade de Direito do Recife, seguiu a carreira
diplomática, servindo em Santiago do Chile, Roma e Lisboa..., onde, ao se
aposentar, fixou moradia e desfrutou da prazerosa companhia de Eça de Queirós,
Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Fialho Almeida. Guimarães Júnior foi membro
fundador da Academia Brasileira de Letras e colaborador de diversos veículos de
comunicação: Jornal do Domingo: Revista
Universal (1881-1888); Ribaltas
e Gambiarras (1881), A Reforma; A República; O Correio Paulistano; Imprensa
Acadêmica de São Paulo; Gazeta
de Notícias. Na web há farto material sobre Luiz Guimarães Junior, autor de Poesia: Corimbos (1866); Noturnos (1872); Sonetos e Rimas (1880); Ficção:
Filigranas (1872); Contos sem Pretensão (1872); Curvas e Ziguezagues (1872), Caprichos Humorísticos em Prosa (1872). Romance: Lírio Branco (1862); A
Família Agulha (1870); Teatro: Uma Cena Contemporânea (1862); As Quedas Fatais; André Vidal; As Joias
Indiscretas; Um Pequeno Demônio; O Caminho Mais Curto; Os Amores Que Passam; Valentina; A Alma Do Outro Mundo (1913); Biografias:
A. Carlos Gomes; Pedro Américo (1871). Iracema Guimarães Vilela, filha do escritor,
em seu livro Luís Guimarães Júnior:
Ensaio Biobibliográfico (1934), revela que o autor, pouco antes de morrer,
em 1898, queimou diversos manuscritos (peças, crônicas e poemas), incluindo as
duas primeiras edições de Sonetos e Rimas
(1880 e 1886) suas últimas obras impressas em vida. Saber mais: Academia
Brasileira de Letras; artculturalbrasil.
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