sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Murillo Araujo: Humoresco Silvestre

Aproveitando que no mês de setembro, além da primavera, e ou talvez por isso, o Brasil é tomado por feiras de livros e encontros literários, expondo a velha e a nova literatura para novos e velhos leitores, decidi (re)visitar alguns grandes escritores brasileiros e portugueses, cuja obra pode ser apreciada com prazer e considerações por crianças de qualquer idade. São poemas que remetem à infância, ao campo, aos jogos juvenis..., por vezes até melancólicos no seu saudosismo, mas sempre (e)ternos no registro lúdico de um tempo que já não há. Há muito!

O número de poemas será o de um a três, por autor, e as postagens sempre individuais (um por página) para melhor apreciação de cada obra.  Esta primeira edição contará com mais ou menos 30 escritores pinçados ao acaso em meus arquivos. Futuramente farei uma edição apenas com escritoras.

Comecei a publicação ontem, com o nostálgico poema Infância, do escritor simbolista/modernista brasileiro Murillo Araujo (1894 - 1980), e sigo hoje com o campestre Humoresco Silvestre. Amanhã será a vez do Sonho de Herói.


        

Humoresco Silvestre
Murillo Araujo

O vento, chefe de esquadrão, comanda os pelotões do mato.

E no horto florestal — quartel das árvores —
os pinheiros e coqueiros
fazem ginástica
sueca.

Os castanheiros
com as flores de penacho
jogam peteca.

Sussurram pífanos e rufos na charanga dos bambus.
E as bananeiras
batendo as raquetas das palmas
batem pelota com a péla da lua.

Mas de repente
silêncio...

Pesa o repouso lunar.

Um grilinho clarina.
E o vento chefe-de-esquadrão ordena aos ramos “descansar.”

*
Ilustração de Joba Tridente - 2016



Murillo Araujo (Serro-MG: 26.10.1894 - Rio de Janeiro-RJ: 01.08.1980), advogado, jornalista, escritor e crítico literário. Um dos expoentes do modernismo, lançou o seu primeiro livro, Carrilhões, em 1917, cinco anos antes da Semana de Arte Moderna. Em poesia publicou: A galera (1920), Árias de muito longe (1921), A cidade de ouro (1927), A iluminação da vida (1927), A estrela azul (1940), As sete cores do céu (1941), A escadaria acesa (1941), O palhacinho quebrado, A luz perdida (1952), O candelabro eterno (1955) e, em prosa: A arte do poeta (1944), Ontem, ao luar (1951), Catulo da Paixão Cearense, Aconteceu em nossa terra (pequenos casos de grandes homens), Quadrantes do Modernismo Brasileiro (1958). Murillo traduziu o livro O inspetor geral, do escritor russo Nikolai Gogol (1809 - 1852). Fonte: Antonio Miranda e Murillo Araujo Vida e Obra.

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