sábado, 24 de setembro de 2016

Olavo Bilac: A Boneca

Aproveitando que no mês de setembro, além da primavera, e ou talvez por isso, o Brasil é tomado por feiras de livros e encontros literários, expondo a velha e a nova literatura para novos e velhos leitores, decidi (re)visitar alguns grandes escritores brasileiros e portugueses, cuja obra pode ser apreciada com prazer e considerações por crianças de qualquer idade. São poemas que remetem à infância, ao campo, aos jogos juvenis..., por vezes até melancólicos no seu saudosismo, mas sempre (e)ternos no registro lúdico de um tempo que já não há. Há muito!

O número de poemas será o de um a três, por autor, e as postagens sempre individuais (um por página) para melhor apreciação de cada obra.  Esta primeira edição contará com mais ou menos 30 escritores pinçados ao acaso em meus arquivos. Futuramente farei uma edição apenas com escritoras.

Olavo Bilac (1865-1918) é um dos mais importantes escritores brasileiros. Já publiquei por aqui vários poemas seus: O Soldado e A Trombeta; Velhice; O Remédio; As Velhas Árvores; A Avó..., e até mesmo o exaltação A Pátria. Grande parte de sua obra é dedicada ao universo infantojuvenil. Do seu livro Poesias Infantis (1904), resgato dois poemas. Ontem você conheceu as dores de O Pássaro Cativo..., um pertinente libelo à liberdade. Hoje você “assiste” ao pega-pega de duas garotas pela posse de um brinquedo muito especial em A Boneca..., que também já esteve por aqui em uma postagem que reuniu também Guerra Junqueiro e um autor (inglês) desconhecido discorrendo sobre o mesmo assunto: Boneca..., onde incluí vários links para downloads legais. Amanhã o dia está reservado para a beleza desconcertante (ou expressionista) da fauna em um soneto de Luiz Guimarães Junior (1845-1898).


        

A  Boneca
Olavo Bilac

Deixando a bola e a peteca,
Com que inda há pouco brincavam,
Por causa de uma boneca,
Duas meninas brigavam.

Dizia a primeira: “É minha ! “
— “É minha!” a outra gritava;
E nenhuma se continha,
Nem a boneca largava.

Quem mais sofria (coitada!)
Era a boneca. Já tinha
Toda a roupa estraçalhada,
E amarrotada a carinha.

Tanto puxavam por ela,
Que a pobre rasgou-se ao meio,
Perdendo a estopa amarela
Que lhe formava o recheio.

E, ao fim de tanta fadiga,
Voltando a bola e a peteca,
Ambas, por causa da briga,
Ficaram sem a boneca...

*
ilustração de Joba Tridente.2012


Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (Rio de Janeiro-RJ: 16.12.1865 - Rio de Janeiro-RJ: 28.12.1918), jornalista, escritor (parnasiano) de prosa e verso e membro fundador da Academia Brasileira de Letras (1896), onde ocupou a cadeira 15, cujo patrono é o poeta Gonçalves Dias. Olavo Bilac, eleito Príncipe dos Poetas Brasileiros, pela revista Fon-Fon, em 1907, tinha grande apreço pela literatura dirigida aos jovens. Republicano e nacionalista o polemista escritor é autor do Hino à Bandeira e de Poesias (1888); Crônicas e novelas (1894); Sagres (1898); Crônicas e Novelas (1894); Alma Inquieta (1902); Via Láctea (1888); Sarças de Fogo (1888); O Caçador de Esmeraldas (1902); As Viagens (1902); Crítica e fantasia (1904); Poesias infantis (1904); Contos Pátrios (1904); Conferências literárias (1906); Tratado de versificação (1905); Dicionário de rimas (1913); Ironia e piedade (1916); A Defesa Nacional (1917); Tarde (1919). Para saber mais: Academia Brasileira de Letras; Wikipédia.

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