Aproveitando
que no mês de setembro, além da primavera, e ou talvez por isso, o Brasil é
tomado por feiras de livros e encontros literários, expondo a velha e a nova
literatura para novos e velhos leitores, decidi (re)visitar alguns grandes escritores
brasileiros e portugueses, cuja obra pode ser apreciada com prazer e
considerações por crianças de qualquer idade. São poemas que remetem à
infância, ao campo, aos jogos juvenis..., por vezes até melancólicos no seu
saudosismo, mas sempre (e)ternos no registro lúdico de um tempo que já não há.
Há muito!
O
número de poemas será o de um a três, por autor, e as postagens sempre
individuais (um por página) para melhor apreciação de cada obra. Esta primeira edição contará com mais ou menos
30 escritores pinçados ao acaso em meus arquivos. Futuramente farei uma edição
apenas com escritoras.
O autor
simbolista/modernista brasileiro Murillo Araujo
(1894 - 1980) abre a série com três poemas. O primeiro é o seu memorável Infância, Publicado em 1917, no livro Carrilhões (*)... Amanhã, será a vez de Humoresco Silvestre e, depois, Sonho de Herói.
Infância
Murillo Araujo
À noite (e lá por fora ia a tormenta...)
eu pedia à Mamãe: Conta uma história!
E ouvia... Cabecinha sonolenta,
via os reinos de fadas - via a Glória.
(Havia a ventania
e a merencória
chuvarada, nas telhas, barulhenta.)
-"Era uma vez..." É incenso na memória
aquela voz embaladora e lenta!
Hoje (que diferente é cada idade!)
Mamãe foi ver as fadas... foi talvez
morar no Reino da Felicidade!
Hoje sou homem, sou, vejam vocês.
Ai! vindo a noite e vindo a tempestade
só da Saudade escuto ERA UMA VEZ!
*
Ilustração de Joba Tridente - 2013
Murillo Araujo (Serro-MG: 26.10.1894 - Rio de Janeiro-RJ: 01.08.1980), advogado, jornalista,
escritor e crítico literário. Um dos expoentes do modernismo, lançou o seu
primeiro livro, Carrilhões, em
1917, cinco anos antes da Semana de Arte Moderna. Em poesia publicou: A galera (1920), Árias de muito longe (1921), A
cidade de ouro (1927), A iluminação
da vida (1927), A estrela azul
(1940), As sete cores do céu (1941), A escadaria acesa (1941), O palhacinho quebrado, A luz perdida (1952), O candelabro eterno (1955) e, em prosa: A arte do poeta (1944), Ontem, ao luar (1951), Catulo da
Paixão Cearense, Aconteceu em nossa terra (pequenos casos de grandes homens),
Quadrantes do Modernismo Brasileiro
(1958). Murillo traduziu o livro O
inspetor geral, do escritor russo Nikolai Gogol (1809 - 1852). Fonte: Antonio Miranda e Murillo Araujo Vida e Obra.
(*) A versão digital de Carrilhões (link), de Murillo Araujo, está disponibilizada,
gratuitamente, no Portal Domínio Público.
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